27.6.06

PETS



Tenho a sensação que alguns dos temas aqui abordados, ultimamente, podem estar a ser considerados de digestão demasiado pesada...
Para descontrair, vou falar-vos dum programa a que assisti com o meu filho, pois merece alguma reflexão.
Garanto que, apesar de não ter qualidade, ele teve um único mérito - com o ridículo da questão, o riso foi tal, que deu para desopilar o fígado, pois as expressões de “não acredito”, ou será mesmo verdade”, ou o riso contagiante dele, fizeram com que eu aguentasse até ao fim, só para ver até onde podia ir a futilidade humana!
Os animais de estimação dos famosos - sendo que cada um terá que ser mais exótico que o anterior, especialmente a raça canina! - que os seus donos exibem como se fossem troféus raros, e o tratamento que lhes dão, pode indignar qualquer um. Até aqui dá para aguentar. Mas pensar que eles gastam milhões para comprar coisas tão desnecessárias aos próprios animais e que no mundo há crianças a morrer de fome todos os dias, isso já revolta. Se pensam que é exagero, eu deixo alguns números que, a ser verdadeiros, são duma afronta tal que merecem a nossa revolta. Então que me dizem a uma casa para cão que custa a módica quantia de 15.000 €? Mas isto não é nada comparado com uma pulseira de brilhantes, para cachorro, apenas por 22.000 €!... Fora a colecção de “vestuário” que é tão exorbitante quanto a das suas donas, ou a ida ao “cabeleireiro”, à manicure ou as massagens, que dava para vacinar centenas de crianças!, ou as suas camas, a valer 2.000 €, que fariam felizes tantos meninos a dormir em caixotes!...
Por outro lado, devemos pensar que se essas estrelas ganham tanto dinheiro, em parte, a culpa é nossa, porque usamos os produtos que eles criaram. E se existem pessoas que abdicam de parte da sua fortuna para ajudar as pessoas carenciadas (Mia Farrow, Sting, Angelina Jolie), outros há que fazem afrontas do tipo das descritas, não só com os animais mas com tudo na sua vida.
Mas como dizia a minha avó, até para ser cão é preciso sorte! Não sei se estes cachorros serão muito felizes...

13.6.06

TRIÂNGULO DE CONFLITO



Hoje vou falar-vos de um triângulo... Não, não é um triângulo amoroso, desse falar-vos-ei no Livro.
Ou melhor, deveria referir 2 triângulos - o primeiro, Malan denominou-o de “Triângulo de Conflito”, colocando em cada um dos seus três vértices a Defesa, a Ansiedade e a Pulsão; o segundo, Triângulo de Pessoas, com os vértices ocupados pelo Outro, Terapeuta e Figuras Parentais. Mas Malan acaba por defini-los a ambos como Triângulos de Insight, já que o primeiro assenta no vértice Pulsão e o segundo na relação com os Pais, sendo este o «...alvo de quase toda a psicoterapia dinâmica que consiste em chegar até à pulsão subjacente, à defesa e à ansiedade, investigando esse verdadeiro “sentimento encoberto” num recuo desde o presente até às origens no passado, em geral nas relações com os pais»
Com um título assim, talvez se tenham perguntado se eu iria falar da rigorosa Geometria ou do labiríntico Inconsciente! Não, apenas de uma Geometria Psicanalítica..., como diria o nosso querido Machado Vaz!
Sei que o assunto não irá despertar interesse nos visitantes, não me alongarei, deixarei o tema para uma outra abordagem e vou apenas aflorar um dos elementos - a Pulsão, que para Freud, tinha quatro características: origem, pressão, objecto e alvo.
Era a este último que eu queria chegar.
O alvo da Pulsão é sempre a satisfação, a reivindicação permanente da satisfação, a exigência do gozo, de tal modo que o objecto poderá ser muito diverso. E aí entra a sublimação, da qual Freud falava como “representação”. Será esta patológica? E se a satisfação sublimatória é assim tão perfeita, porque é que o artista não é feliz e porque não sublima ele de um modo suficiente para se libertar dos seus maus génios e o neurótico não se cura a si próprio? É a impossibilidade da auto-análise.
Talvez seja esse, também, o meu problema e por isso rodopio neste triângulo tão conflituosamente!...

5.6.06

PONTE SOBRE O TEMPO


A única vantagem que temos, relativamente aos jovens, é que quando se trata de viajar no tempo, recordar o passado, o nosso percurso é muito mais longo, porque temos mais coisas para recordar e muito mais anos a percorrer. Umas há que vale mais a pena recordar que outras, mas quando o fazemos, como o hiato de tempo é tão grande, o prazer do regresso é maior!
Tudo isto para vos falar do concerto do Rock in Rio Lisboa de sexta, dia 2/6, que, para além de Carlos Santana (sem voz!), com a sua guitarra mágica, tivemos Roger Waters (também com muito pouca voz) que nos trouxe a sua música e, essencialmente algumas dos Pink Floyd. Tecnicamente, houve momentos em que pensei estar perante o grupo, mas a idade não perdoa e, na hora de cantar, o velho Waters trazia-me à realidade.
Mas valeu a pena, foi uma noite mágica, tal como dizia Santana na minha canção favorita... e por uma noite, também eu me senti a magic woman... e se recordar é viver, eu vivi uma noite perdida no tempo!