24.5.06

GERAÇÃO DEPRIMIDA




Os Pais desta década enfrentam uma situação deveras desconcertante no que diz respeito à sua relação com os filhos.
Eles são muitas vezes apelidados de irresponsáveis, e atiçados com o gasto chavão “na tua idade, eu já fazia isto, sabia aquilo, etc.”, e outras tantas ouvimos esses mesmos pais dizer dos filhos “eles percebem mais disso do que eu ou, dessas tecnologias eles é que sabem”.
Enfim, em muitos aspectos parece que nasceram já ensinados, noutros são vistos como incapazes de resolver os mais pequenos problemas, sem autonomia e com demasiadas preocupações que não sabem resolver sozinhos.
Os pais, sempre com falta de tempo e tentando dar aos seus filhos aquilo que eles não tiveram, colmatando assim a sua ausência, a falta de diálogo e, muitas vezes, de carinho, pensam que fazem o melhor pelos filhos.
Os filhos, habituados a tudo ter sem esforço nenhum, não aprendem a valorizar o que têm. E quando não conseguem ter algo, pois nem tudo os pais podem comprar, revoltam-se! Sentem-se frustrados e sofrem com isso!
Não é por acaso que subiu em flecha a taxa de suicídio entre os jovens e as consultas a Psicólogos ou Psiquiatras.
E não pensem que eles não sofrem de verdade, que são desculpas. Não, eles sofrem mesmo por não conseguirem viver como lhes prometeram, num mundo de tecnologias e de meios de comunicação que lhes vendeu um mundo fácil, com felicidade garantida e sem entraves de espécie alguma. E quando surgem os problemas, eles não sabem lidar com eles, não foram ensinados a ultrapassá-los.

Estes filhos são uma geração deprimida, intolerante e frustrada!

Tal como houve na década de 60 a geração Hippy - que pensava mudar o Mundo, nas décadas de 70 e 80, a geração rebelde - que nada aceitava e tudo contestava, na década de 90 a geração Prozac, temos a gora a geração deprimida!

18.5.06

SENSUALIDADE



Volúpia, lascívia, luxúria, são sinónimos de sensualidade, tendo implícita a embriaguês dos sentidos. Todos sabem do que falo!
É normal associar a sensualidade à beleza, principalmente quando se fala de imagens, e imagens femininas. Mas nem sempre tem que ser assim: há flores, como algumas orquídeas, que pela sua forma e beleza, conseguem exercer o mesmo efeito em quem as contempla, desde que possua sensibilidade para isso. Há objectos, que pelo seu design, nos transmitem as mesmas sensações. Isto para não falar em pintura ou escultura, onde abundam as imagens e formas sensuais.
Enlevo, encantamento, fascinação, são também definições de sensualidade, e tudo isto podemos encontrar, em pessoas não necessariamente belas, mas que têm uma postura, toque, olhar, riso, forma de vestir, etc., que fazem despertar em nós o mesmo deleite.
Sensual pode ainda ser a cor, o andar, o sorrir, o cruzar e descruzar das pernas... e tantas outras coisa, bastando para isso que a pessoa em causa pretenda causar esse efeito. Exemplo do que digo é o vídeoclip Don't Bother de Shakira.

Sensual define um conceito, mais de quem olha, do que de quem é observado.

12.5.06

LIVRO



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A caixa do correio electrónico estava cheia, como sempre, mas apenas um endereço era importante. Aquele remetente - cujo nome, pequeno, arredondado e com uma sonoridade tão musical - sobressaía na imensa lista de mensagens que reclamavam a sua atenção. Tudo o resto era trabalho, coisas importantes sem dúvida, mas que teriam que aguardar mais um pouco, pois a sua curiosidade era mais forte do que o seu sentido de dever.
Sabrina esquecia-se do tempo sempre que abria o correio dele.
Luís era, sobretudo, amoroso. Fazia bem ao seu ego sentir-se assim amada, quase idolatrada, em confronto com um período tão cinzento, tão carente, que atravessava a sua vida conjugal.
Luís foi entrando na sua vida aos poucos: sempre amável e solícito, sempre que o assunto abordado era ela, arrebatador quando abordava temas do seu interesse, como a ópera, a música - a clássica, claro, a única que merecia o nome de arte -, ou em áreas de interesse comum, como os mercados financeiros ou o teatro. Cada conversa telefónica, cada mensagem escrita, era mais uma porta que se entreabria para o mundo dele, tão diferente, tão seguro, e por ela tão desejado!
No início, antes da intimidade, Sabrina conseguia vislumbrar nesses contactos, uma forte necessidade de diálogo, de troca de ideias e de estímulo intelectual. Luís usava de uma peculiar crítica zombeteira sempre que aludia a assuntos de carácter social, embora sempre jocoso, deixando denotar uma fugaz sensação de superioridade. Isso intimidava-a! Aquela sensação de desconforto voltava, sempre que ponderava o assunto!
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5.5.06

O LIVRO




Inicio hoje a publicação de alguns excertos do livro que comecei há dias.

É um romance sem pretensões, que prometi a mim própria escrever, tendo apenas como objectivo o prazer da escrita - boa ou má, compete a vós apreciar.

A todos aqueles que se derem ao trabalho de ler, agradeço apenas comentários construtivos e peço que esqueçam o elogio fácil. Não é esse o meu intento.
Beijos.

DEDICATÓRIA

Àquele que julga que escrever
é trabalho de pouca monta
porque nunca soube
rasgar as entranhas
e pôr a alma a nu.

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Capítulo I
O DESPERTAR


Sabrina era loira, meiga, cheia de vida e... sabida.

Ela abriu os olhos, libertou-se da roupa e, parou o gesto... queria tanto recordar o sonho que acabara de ter, que fechou os olhos e tentou recuar o pensamento.

Conseguiu pegar na última imagem, aquela em que todos os homens, incluindo os bebés, desfilavam à sua frente com os pés ensanguentados. Que sonho mais enigmático! Tinha com certeza um significado muito especial, mas ela não era entendida nessas coisas. A teoria Freudiana nunca tinha conseguido aguçar a sua curiosidade. Era mais dada a Leis, amores e caprichos. Teria que falar disso quando visitasse o seu Psicólogo. Qual seria a mensagem que o seu inconsciente lhe mandava, tipo charada em e-mail, para ela decifrar?

O toque do telemóvel chamou-a à realidade, dando a necessária continuidade ao gesto interrompido pelo devaneio anterior.

Era ainda cedo, mas seu romance não tinha horas. Ela tinha um amor muito possessivo, e a voz carinhosa que reclamava a sua atenção, saindo daquela caixinha milagrosa - que ele odiava mas ela não dispensava - tornou o seu despertar mais alegre.
Bem vistas as coisas, era até muito prático, pois podiam namorar em qualquer lado. Nem Sabrina entendia como havia gente que se recusava a aceitar esta maravilha da tecnologia.

E já que falamos de tecnologia, convém dizer que, apesar de tanto falarem, escreverem, conversarem por todos os meios, Sabrina nunca tinha visto Luís. Este era um “flirt” diferente dos outros. Era um romance do século XXI, fruto da nova era tecnológica, onde a Internet faz milagres aproximando corações solitários.
Talvez ele escondesse algo que lhe escapava, mas agora não queria questionar nada, queria apenas ouvir as palavras ternas a que ela já se habituara, e elas surgiam mais calorosas e saudosas que nunca.
Sabrina olha o relógio, pensa nos seus compromissos para esse dia, desculpa-se e esgueira-se para o duche.